tag:blogger.com,1999:blog-17762902174615884802024-02-19T07:07:45.877-08:00Interagindo com as Letras 2013Edilene Santoshttp://www.blogger.com/profile/02464421227479674442noreply@blogger.comBlogger4125tag:blogger.com,1999:blog-1776290217461588480.post-45265694176893859802013-06-25T16:23:00.002-07:002013-06-25T16:23:35.136-07:00<div align="center" style="background-color: white;">
<span style="color: #ba231b; font-family: Arial; font-size: medium;">A Cartomante</span></div>
<div align="right" style="background-color: white;">
<b><span style="font-family: Arial; font-size: small;">Machado de Assis</span></b></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;"><br />Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Onde é a casa?</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Camilo riu outra vez:</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor <i>di femina</i>: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda peior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a idéa, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim...</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Anda! agora! empurra! vá! vá!</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia..." Que perdia ele, se...?</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— A mim e a ela, explicou vivamente ele.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— As cartas dizem-me...</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Esta levantou-se, rindo.</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.</span></div>
<div align="left" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?</span></div>
<div align="justify" style="background-color: white;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.</span></div>
<div>
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_bxLp8s6bIhqGWF_BZXi2F7GOm9qSm9uvzTDdqt17jLygjXzIHz9LA-XhgkX2ME3-JZB-w6_BWmnXAeja_TGGXYQlrz9h2WAssLLlLp_cFhKn99QkhYCl2RMha_eQ5M6y7MWBJIev5Ks/s1600/a+cartomante.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_bxLp8s6bIhqGWF_BZXi2F7GOm9qSm9uvzTDdqt17jLygjXzIHz9LA-XhgkX2ME3-JZB-w6_BWmnXAeja_TGGXYQlrz9h2WAssLLlLp_cFhKn99QkhYCl2RMha_eQ5M6y7MWBJIev5Ks/s1600/a+cartomante.gif" /></a></div>
<div>
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;">Referência:</span></div>
<div>
<a href="http://www.releituras.com/machadodeassis_cartomante.asp">http://www.releituras.com/machadodeassis_cartomante.asp</a></div>
<div>
<a href="http://www.google.com.br/imgres?imgurl=https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCRKbUE-c1_xySSKruxGAZDmIGIPWfFem7VtPz7CG2YC3QlyrgLoRp2kvH57FALCp_UlnQBGjZSNfsEG5iei8VTfvEsLzQi5eJrnjAgAOjJdzqaFN1ytTgJMVfEp6NDRovtwo7oBBqF4o/s1600/a+cartomante.gif&imgrefurl=http://blogdorosenberg.blogspot.com/2010/05/cartomante-de-machado-de-assis-segundo_08.html&h=253&w=300&sz=42&tbnid=4p3lsOfw6C8J8M:&tbnh=103&tbnw=122&zoom=1&usg=__RHIQ3j9xuWMG05t-23MqQ6rYYPY=&docid=JRQ3SsTgxeYSWM&sa=X&ei=wiTKUZqQLJK24APskIHACg&ved=0CEQQ9QEwBA&dur=4374">http://www.google.com.br/imgres?imgur</a></div>
Edilene Santoshttp://www.blogger.com/profile/02464421227479674442noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1776290217461588480.post-69668667139194395042013-06-19T21:11:00.001-07:002013-06-25T16:14:46.638-07:00Realismo e Naturalismo<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;">Realismo e Naturalismo</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="text-align: left;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">"Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para lavadeiras. As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia; tudo pago adiantado. O preço de cada tina, metendo a água, quinhentos réis; sabão à parte. As moradoras do cortiço tinham preferência e não pagavam nada para lavar. (...)"</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i style="font-family: arial, helvetica; font-size: 12px; text-align: left;">O cortiço, São Paulo, Ática,1997.</i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvcrT0X-dXW33xz4nLg3qqCPuNMSuVjLYTTe98eSLFpn_gaq9muLuMvWvoXyr2cAa34PZJK6k_LyanZFLdmDMCCrb2lvUG-wU1GzpcWlnDaFKuvkxp0Png4vzEbzwSI9d81bmkdWxE_zY/s1600/cortic3a7o-11.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvcrT0X-dXW33xz4nLg3qqCPuNMSuVjLYTTe98eSLFpn_gaq9muLuMvWvoXyr2cAa34PZJK6k_LyanZFLdmDMCCrb2lvUG-wU1GzpcWlnDaFKuvkxp0Png4vzEbzwSI9d81bmkdWxE_zY/s320/cortic3a7o-11.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na segunda metade do século XIX, as tendências românticas
deram lugar a uma visão de mundo materialista, científica. A influência do
cientificismo e do positivismo caracterizou uma literatura que visava ser fiel à realidade, descrevendo-a de modo imparcial.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No Brasil, essas ideias coincidiram com vários eventos que prenunciavam o fim do escravismo e do regime imperial: o desenvolvimento da economia cafeeira , o crescimento de classes médias urbanas e os conflitos cada vez mais acirrados entre abolicionistas e monarquistas e republicanos. Esse momento de crise produziu uma nova literatura de denúncia e combate, que trabalhava com temas sociais. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O Realismo caracterizou-se pelo cientificismo. pela retratação das personagens a partir das motivações externas ( vertente realista), fidelidade à realidade, linguagem simples e precisa, descrição detalhista, foco narrativo em seu próprio tempo e espaço históricos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O Naturalismo foi o Realismo levado às últimas consequências, vendo o homem como um ser totalmente condicionado pelo ambiente.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No Realismo de vertente realista destacamos Machado de Assis e Raul Pompéia, e no de vertente naturalista, Aluísio de Azevedo e Inglês de Souza.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioO9N5cCboFJ39fAfJ-e3fff8j7EmI9cuSHNIiVPhvvocRFm7SyCTco2yV7V8o3M65Sw5HiBdS728NWu1ZcOxlhpFj1i6GXGd6WK23MrCdZ7GfUVESSP_o1njrgm97EEcYzapqBfWPStw/s1600/realismo3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioO9N5cCboFJ39fAfJ-e3fff8j7EmI9cuSHNIiVPhvvocRFm7SyCTco2yV7V8o3M65Sw5HiBdS728NWu1ZcOxlhpFj1i6GXGd6WK23MrCdZ7GfUVESSP_o1njrgm97EEcYzapqBfWPStw/s320/realismo3.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Edilene Santoshttp://www.blogger.com/profile/02464421227479674442noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-1776290217461588480.post-79161989627874317322013-06-19T14:34:00.002-07:002013-06-21T09:07:46.583-07:00Romantismo Brasileiro<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;">Romantismo no Brasil (1836-1881)</span><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
O Romantismo no Brasil está associado ao período pós-Revolução Francesa, expressando um descontentamento das classes desfavorecidas ou marginalizadas no decorrer da destruição do Velho Regime.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os Valores dominantes no Romantismo foram o cristianismo, o medievalismo, a valorização da emoção e do amor, o nacionalismo , a evasão, o culto ao passado das nações, o subjetivismo voltado para si mesmo e as rejeições às formas. O indianismo foi a versão brasileira do nacionalismo romântico, pois o índio é tratado como herói do passado colonial.</div>
<div style="text-align: justify;">
As mudanças sociais, políticas e econômicas causadas pela Revolução Francesa permitiram a ascensão da burguesia e valorizaram o indivíduo. É o período da individualidade. A independência do Brasil permitiu maior contato com os centros europeus, aumentou o alcance da imprensa, fez com que as primeiras faculdades fossem fundadas, permitiu maior circulação de ideias, o que ajudou muito para o amadurecimento da literatura Brasileira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>As Gerações do Romantismo</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
São apontadas três gerações de escritores românticos no Brasil.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>A primeira geração:</b></span>Nacionalista, indianista e religiosa. Nela se destacam Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães.</div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A segunda geração:</span></b> Marcada pela crise existencial, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo, satanismo e atração pela morte. Seus principais </div>
<div style="text-align: justify;">
representantes são Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire.</div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A terceira geração</span></b>: É formada pelo grupo de condoreiro, desenvolve uma poesia de cunho político e social. A maior expressão desse grupo é Castro Alves.</div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-family: arial, helvetica; font-size: 12px; text-align: left;"><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-family: arial, helvetica; font-size: 12px; text-align: left;"><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<br style="font-family: arial, helvetica; font-size: 12px; text-align: left;" />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeZMfFTNPRCbFR7MWvIkenpjz_7J5pge07nOIOImp6o0yFYz9i12id0iMKXGTRH5EJWgkvhgoEAtrsh75lHEvO4SEJ8yX5b-bmfLOAWfWP5xz1fdKwprdQQUVPLL59ZI8-StHpmul9uPg/s1600/GE127.701.A.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeZMfFTNPRCbFR7MWvIkenpjz_7J5pge07nOIOImp6o0yFYz9i12id0iMKXGTRH5EJWgkvhgoEAtrsh75lHEvO4SEJ8yX5b-bmfLOAWfWP5xz1fdKwprdQQUVPLL59ZI8-StHpmul9uPg/s1600/GE127.701.A.jpg" /></a></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i style="text-align: left;"><br /></i></span>
<b style="font-family: arial, helvetica; font-size: 12px; text-align: left;">CANÇÃO DO EXÍLIO</b><br />
<b style="font-family: arial, helvetica; font-size: 12px; text-align: left;"><br /></b>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i style="text-align: left;">Minha terra tem palmeiras,<br />Onde canta o Sabiá;<br />As aves, que aqui gorjeiam,<br />Não gorjeiam como lá.<br />Nosso céu tem mais estrelas,<br />Nossas várzeas têm mais flores,<br />Nossos bosques têm mais vida,<br />Nossa vida mais amores.<br />Em cismar, sozinho, à noite,<br />Mais prazer encontro eu lá;<br />Minha terra tem palmeiras,<br />Onde canta o Sabiá.<br />Minha terra tem primores,<br />Que tais não encontro eu cá;<br />Em cismar - sozinho, à noite -<br />Mais prazer encontro eu lá; <br />Minha terra tem palmeiras,<br />Onde canta o Sabiá.<br />Não permita Deus que eu morra,<br />Sem que eu volte para lá;<br />Sem que eu desfrute os primores<br />Que não encontro por cá;<br />Sem qu’in da aviste as palmeiras,<br />Onde canta o Sabiá.</i></span> <br />
<div style="text-align: right;">
Gonçalves Dias</div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<br />
<div style="background-color: white; text-align: center;">
<span style="color: #ba231b; font-family: Arial; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: center;">
<span style="color: #ba231b; font-family: Arial; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: center;">
<span style="color: #ba231b; font-family: Arial; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: center;">
<span style="color: #ba231b; font-family: Arial; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: center;">
<span style="color: #ba231b; font-family: Arial; font-size: medium;">É ela! É ela! É ela! É ela</span></div>
<div style="background-color: white; text-align: right;">
<strong><span style="font-family: Arial;">Álvares de Azevedo</span></strong></div>
<blockquote style="background-color: white; text-align: start;">
<span style="font-size: x-small;"><br /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>É ela! é ela! — murmurei tremendo,<br />e o eco ao longe murmurou — é ela!<br />Eu a vi... minha fada aérea e pura —<br />a minha lavadeira na janela.<br /><br />Dessas águas furtadas onde eu moro<br />eu a vejo estendendo no telhado<br />os vestidos de chita, as saias brancas;<br />eu a vejo e suspiro enamorado!<br /><br />Esta noite eu ousei mais atrevido,<br />nas telhas que estalavam nos meus passos,<br />ir espiar seu venturoso sono,<br />vê-la mais bela de Morfeu nos braços!<br /><br />Como dormia! que profundo sono!...<br />Tinha na mão o ferro do engomado...<br />Como roncava maviosa e pura!...<br />Quase caí na rua desmaiado!<br /><br />Afastei a janela, entrei medroso...<br />Palpitava-lhe o seio adormecido...<br />Fui beijá-la... roubei do seio dela<br />um bilhete que estava ali metido...<br /><br />Oh! decerto... (pensei) é doce página<br />onde a alma derramou gentis amores;<br />são versos dela... que amanhã decerto<br />ela me enviará cheios de flores...<br /><br />Tremi de febre! Venturosa folha!<br />Quem pousasse contigo neste seio!<br />Como Otelo beijando a sua esposa,<br />eu beijei-a a tremer de devaneio...<br /><br />É ela! é ela! — repeti tremendo;<br />mas cantou nesse instante uma coruja...<br />Abri cioso a página secreta...<br />Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!<br /><br />Mas se Werther morreu por ver Carlota<br />Dando pão com manteiga às criancinhas,<br />Se achou-a assim tão bela... eu mais te adoro<br />Sonhando-te a lavar as camisinhas!<br /><br />É ela! é ela, meu amor, minh'alma,<br />A Laura, a Beatriz que o céu revela...<br />É ela! é ela! — murmurei tremendo,<br />E o eco ao longe suspirou — é ela!</i></span></span></blockquote>
<br />
<br />
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Referências:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">AMARAL, Emília.<b>Novas palavras: língua portuguesa</b>. 2 ed. São Paulo,2005.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">COUTINHO, Afrânio. <b>A literatura no Brasil</b>.2 ed. Rio de Janeiro: Sul Americana,1970.</span><!--[endif]--></span></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 115%;">http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/banco_de_questoes/portugues/cancao_do_exilio. Acessado em </span><br />
<span style="font-size: 11pt; line-height: 115%;">19/06/2013</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 115%;"><a href="http://www.releituras.com/alvazevedo_eela.asp">http://www.releituras.com/alvazevedo_eela.asp</a> Acessado em: 21/06/2013</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><!--[if gte vml 1]><v:shapetype id="_x0000_t75"
coordsize="21600,21600" o:spt="75" o:preferrelative="t" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe"
filled="f" stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter"/>
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0"/>
<v:f eqn="sum @0 1 0"/>
<v:f eqn="sum 0 0 @1"/>
<v:f eqn="prod @2 1 2"/>
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth"/>
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight"/>
<v:f eqn="sum @0 0 1"/>
<v:f eqn="prod @6 1 2"/>
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth"/>
<v:f eqn="sum @8 21600 0"/>
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight"/>
<v:f eqn="sum @10 21600 0"/>
</v:formulas>
<v:path o:extrusionok="f" gradientshapeok="t" o:connecttype="rect"/>
<o:lock v:ext="edit" aspectratio="t"/>
</v:shapetype><v:shape id="_x0000_i1025" type="#_x0000_t75" alt="" style='width:202.5pt;
height:309pt'>
<v:imagedata src="file:///C:\Users\Edlene\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image001.jpg"
o:href="http://www.nordesteweb.com/not09-1202/20021123goncalvesdias.jpg"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><!--[endif]--></span></div>
Edilene Santoshttp://www.blogger.com/profile/02464421227479674442noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-1776290217461588480.post-16585240276624263352013-04-09T17:45:00.001-07:002013-04-13T13:34:57.035-07:00Sejam Bem-Vindos!<br />
<br />
Este blog é destinado a compartilhar postagens no que tange ao espaço das Letras, bem como Linguística, Literatura e Práticas educativas sobre a Língua Portuguesa.<br />
<br />
Desfrutem desse espaço!<br />
<br />
Edilene Santos.Edilene Santoshttp://www.blogger.com/profile/02464421227479674442noreply@blogger.com4